A mídia nacional, deu novamente neste final de semana, destaque a atuação do vice-presidente do Senado, Veneziano Vital do Rêgo, que num dos momentos mais difíceis da nossa democracia, estava à frente do Senado, quando dos ataques golpistas a sede dos três poderes da República no último domingo (08). Em entrevista dada no último sábado (14), ao Jornal Impresso Valor Econômico, Veneziano revelou bastidores de como soube e atuou em face aos ataques anti-democráticos, bem como, sobre os levantamentos dos custos dos danos ocorridos em Brasília e destacou, que o Senado vai cobrar a quantia dos golpistas
A matéria foi reproduzida, pelo portal Valor Econômico, nesta segunda-feira (16), quando indaga o senador sobre os prejuízos contabilizado apenas no Senado com o ataque, onde o presidente em exercício do Senado durante a invasão e depredação, destacou que os prejuízos no Senado chegam a R$ 5 milhões. Veneziano, garante, que o Senado vai cobrar a quantia dos golpistas. “Vamos dar cabo às ações em âmbito civil e criminal, com direto a bloqueio de ativos, sequestro de bens, arresto, tudo o que for possível”.
Neste depoimento ao Valor, o senador conta como foram os bastidores do episódio. No domingo, às 7h, ele recebeu da polícia legislativa informações da chegada de ônibus à capital federal e do pouco efetivo disponível para proteger o Senado.
Tentou falar com o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB) e não conseguiu. Tentou o secretário de Segurança Anderson Torres, mas este havia viajado ao exterior. Ouviu de Gustavo Rocha, secretário da Casa Civil do DF, que não havia com que se preocupar: a segurança estava garantida.
Procurado pelo Valor, Rocha diz que isso teria ocorrido no sábado e apenas repassou informações. Diferentemente da posse, destaca, no dia 8 não estava à frente da ação.
Veneziano estava em João Pessoa, almoçando com a família de frente para o mar quando o filho de 15 anos mostrou em um tablet a invasão ao Congresso. Ele só conseguiu chegar a Brasília, em voo da FAB, às 2h30 de segunda-feira e ficou no Senado até as 4h.
Conta cenas do ministro da Justiça, Flávio Dino, “transtornado” e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), “indignado”, bem como da presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, em lágrimas nas reuniões do dia seguinte. Avalia que Ibaneis foi “no mínimo, omisso” e, caso isso se confirme, deve ser expulso do MDB. Veja a matéria na integra: https://valor.globo.com/politica/noticia/2023/01/16/senador-relata-omissao-do-governo-do-distrito-federal.ghtml
Confira a seguir os principais pontos da entrevista ao Valor:
Antes do ataque
“Eu estava em João Pessoa (PB), tinha voltado sexta-feira depois das posses dos ministros. No domingo, por volta de 7h, recebi um telefonema do chefe da Polícia do Senado, Alessandro Morales, dizendo que estava preocupado com a presença de muitos ônibus e a forma do chamamento das manifestações. Ele ali já expôs uma preocupação de a manifestação descambar para depredação do Congresso ou tentativa de invasão. Ele disse que não teria condição de conter os manifestantes e pediu para que eu ligasse para o governador [do Distrito Federal] Ibaneis Rocha (MDB). Liguei, ele não atendeu. O secretário de Segurança [Anderson Torres] estava de férias. Consegui então falar com o secretário da Casa Civil, Gustavo Rocha, que foi muito atencioso e me disse: “Senador Veneziano, não se preocupe. As providências foram adotadas, temos contingente, bloqueios efetuados para não permitir o acesso aos prédios do Congresso e outros Poderes. Transmita ao presidente Rodrigo Pacheco que nada vai acontecer”. Eu disse a ele que mais de 100 ônibus tinham chegado a Brasília. ele respondeu. ‘Eu estou acompanhando aqui, são umas 400 ou 500 pessoas’. Eu estranhei, disse a ele, ‘se você tiver 40 pessoas por ônibus, já daria 4 mil pessoas. Mas o senhor está garantindo que nada vai acontecer?’ Ele reiterou: ‘Garanto. Nada vai acontecer.’” [Procurado pelo Valor, Gustavo Rocha diz: “Não participei do planejamento da ação. No sábado à noite ele me ligou, como também o ministro Dino e o que fiz foi perguntar para o comandante da PM como seria feito. O que o comandante me passou, repassei para eles. O que fiz foi apenas buscar informações com o órgão responsável e repassei para ele. Por fim, ele só me ligou porque não estava conseguindo contato com os responsáveis pela operação”.]
O ataque
“Quatro horas depois, recebo ligação do Gilvan [Viana, coordenador-geral da Polícia legislativa], atônito, porque já estava em curso a invasão. Só dava para ouvir o barulho. Eu estava almoçando com a família em João Pessoa, de frente para a praia. Meu filho de 15 anos de repente traz um tablet, coloca em cima da mesa. Ali, as cenas de destruição, com os ditos ‘patriotas’ quebrando patrimônio que pertence a eles e a todos nós e depoimentos em redes sociais totalmente fora de propósito. Liguei para o [ministro da Justiça] Flávio Dino. Ele estava transtornado: ‘Eu falei, Veneziano, falei que isso podia acontecer. Eles mudaram o planejamento no sábado [véspera do ataque]. Eu estou vendo tudo aqui do prédio da Justiça. Eles estão invadindo tudo!’ Ali eu comecei a tentar voltar para Brasília, mas não achava voo comercial. Como estava na presidência do Senado, consegui vir num voo da FAB [Força Aérea Brasileira], saí de João Pessoa umas 23h30, pousei em Brasília 2h30. Passei na Asa Sul para pegar o Randolfe [Rodrigues, senador] e viemos para o Congresso. Fomos recebidos pela polícia legislativa e começamos a fazer a inspeção. Meu irmão, você não tem ideia do que era aquilo, o grau de destruição. Ficamos até as 4 horas da manhã, quando chegou a perícia da Polícia Federal. Eles tinham passado antes no Supremo Tribunal Federal. ‘Olha, lá foi pior’, relataram.”
Poderia ser pior
“Era um ato golpista. Para se consolidar, precisaria de outros elementos. Essas pessoas, que se permitiram ser massas de manobra, não têm a compreensão do que é o mundo para imaginar que um golpe de Estado se dá ocupando um prédio. Mas temi que houvesse algo mais grave. Imagine se um dos policiais legislativos saca a arma, dá um tiro para o alto, ou um desses golpistas, quando derrubaram um policial do cavalo, pega a arma dele. Aí viraria o Capitólio.”
Depois do ataque
“Fomos às 9h para uma reunião com o presidente Lula, ministros do governo, líderes e presidentes dos Poderes. Era clima de consternação. A ministra Rosa Weber com os olhos cheios de lágrimas. O que fizeram no STF a abalou muito, foi um ato desmoralizante, ultrajante, cenas de gente defecando no prédio. Ela ficou muito sentida. Vim para o Senado, reuni o colégio de líderes. Todos manifestaram revolta. Alguns [bolsonaristas] apontaram ainda erro do governo federal.”
Lula
“Lula estava extremamente indignado. Porque foi uma revolta sem pauta. Não tinha nenhuma reivindicação da sociedade. Era simplesmente gente que não aceita a derrota na eleição querendo rever o resultado acabando com a democracia.”
Bolsonaristas
“Existem milhares de brasileiros que votaram em Bolsonaro e que sabem que o que aconteceu é algo indigno. Não quer dizer que ele vai passar a votar no Lula. Mas acredito que ele passará a buscar outro em quem identifique sua ideologia conservadora, de direita, mas não tendo como condutor Bolsonaro.”
Bolsonaro
“Deveria estar liderando a oposição dentro das regras democráticas. Mas não sei se ele vai se emendar. Posso até imaginar que continuará tendo o mesmo comportamento. Basta ver a postagem dele, depois dos ataques, novamente contestando o resultado eleitoral. As investigações dirão qual a participação dele nos atos do dia 8, se ele participou, se estimulou, se falou com algum financiador desses atos e dos acampamentos. Mas o processo de colocar brasileiros contra brasileiros, de discriminações raivosas a homoafetivos, à imprensa, principalmente às mulheres, às instituições universitárias, a postura anti-ciência, isso foi construído por ele.”
CPI
“Na CPI da Covid, foi ouvindo testemunhas que demos uma grande contribuição, ao mostrar que tinham pessoas dentro do Ministério da Saúde tratando de comprar e negociar vacina para ganhar o seu, mostrar o atraso na compra das vacinas e tantas outras denúncias. Uma CPI sobre os atos golpistas irá nesse mesmo caminho.”
Processar golpistas
“Vamos propor uma denúncia em que cada ato e cada praticante esteja individualmente identificado – quem é, o que fez, qual a prova. O cidadão que ficou lá no gramado e permaneceu lá não entra. O cidadão que invadiu, já cometeu crime. Aquele que invade e foi gravado danificando patrimônio, um segundo crime. O que fez isso em parceria com outros tantos, já é outro crime. Vamos dar cabo às ações em âmbito civil e criminal, com direito a bloqueio de ativos, sequestro de bens, arresto, tudo o que for possível para cobrir os prejuízos.”
R$ 5 milhões
“O gasto estimado para recompor o Senado nas condições anteriores à destruição é de R$ 4 milhões a R$ 5 milhões. No STF foi ainda pior, vai ficar em algo como R$ 10 milhões.”
Ibaneis
“Desconhecer que seu governo foi omisso, e uma omissão dolosa, não há absolutamente questionamento. Foi omisso, e deliberadamente. Ele pode tentar se socorrer de que foi levado ao engano pelas informações prestadas por seus subordinados. Mas mesmo assim, levado por seu secretário, que estava em férias sem ter tirado férias, a responsabilidade de um governante é maior.”
Anderson Torres
“A nomeação só fez mal a Ibaneis. Ele não é desinformado, nem mal formado para não entender as consequências. Ainda que Torres fosse o maior conhecedor da área de segurança, o erro de Ibaneis foi gigante. Você colocar um cidadão que há menos de um mês estava no olho do furacão, tendo de responder sobre a omissão no tocante aos bloqueios da Polícia Rodoviária Federal no segundo turno, é uma estultice, um erro clamoroso que ele cometeu. Se foi ou não para agradar Bolsonaro, em quem ele votou, não sei. Mas não cabia a nomeação de uma pessoa como Torres durante o processo de instalação de um novo governo e ainda de embates no centro da República. Foi um erro gritante.”
Expulsão do MDB
“Depende. Se houver comprovação de sua participação no que aconteceu, é difícil. Cabe a ele comprovar que foi um episódio que fugiu completamente à sua responsabilidade.”
Pacheco e a reeleição no Senado
“Pelo trabalho que fez, pela desenvoltura política em dois anos complicados, com pandemia, enfrentando situações sensíveis de ataques ao Congresso pelo presidente da República, Rodrigo Pacheco tem altíssimas chances de vitória. Foi equilibrado, firme e acredito que terá votação até superior à de dois anos atrás [quando obteve 57 votos de 81].”
Bloco MDB/União/PSD
“Esse bloco terá 33 integrantes [40,7% do Senado]. O PSD, com 13 senadores, indicará a presidência, com Pacheco. O MDB, com 10 senadores, indica provavelmente o vice-presidente. A presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) por este acordo, seria indicada pelo União Brasil. Os nomes do MDB e do União não estão definidos.”
Assessoria