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O Cidadania expulsou, na noite da segunda-feira (22), o deputado estadual Fernando Cury do quadro de filiados do partido. A decisão foi tomada por recomendação do Conselho de Ética da sigla devido ao caso de importunação sexual contra a também deputada estadual Isa Penna (PSOL), ocorrido há quase um ano. O parlamentar tem direito de recorrer da decisão.

“O Diretório do Cidadania de São Paulo decidiu nesta segunda-feira (22), por 27 votos a 3, expulsar do partido o deputado estadual Fernando Cury, flagrado pelas câmeras da Assembleia Legislativa apalpando em plenário a colega Isa Penna, do PSOL”, afirmou o partido por meio de uma nota. Segundo o Cidadania, o Conselho de Ética Nacional do partido já havia se manifestado pela expulsão, mas o parlamentar conseguiu atrasar o procedimento recorrendo ao judiciário.

“Hoje o partido Cidadania não respondeu a mim, não respondeu ao Fernando Cury. Hoje o Cidadania respondeu a todas mulheres que se sentiram assediadas junto comigo quase um ano atrás”, afirmou a deputada Isa Penna após a decisão.

O presidente do Cidadania, Roberto Freire, elogiou a decisão e lamentou que a solução tenha levado tanto tempo. “Demorou. Já deveríamos ter resolvido isso. Lamentavelmente, ele foi ao judiciário discutir uma questão que é político-partidária e obteve liminar adiando um processo que deveria ser mais ágil. Eu diria até que deveria ser sumário pela gravidade da falta. O diretório de São Paulo fez justiça”, disse.

Fernando Cury ainda poderá recorrer da decisão de São Paulo ao Diretório Nacional. Ele se manifestou nesta segunda-feira por meio de uma nota oficial.

“Em relação à reunião marcada pelo Cidadania hoje para oficializar meu processo de desligamento do partido, venho por esta nota afirmar que, no meu entendimento, esse processo está, mais uma vez, atropelando o devido processo legal para criar um fato político. Não há o intuito de se fazer justiça pois, caso fosse essa a intenção, aguardariam o término dos prazos dos recursos na ação judicial para dar andamento a este processo”, disse.

A decisão interna do partido foi tomada com ampla vantagem, mas demorou quase dez meses para alcançar consenso. Assinado por Alisson Luiz Micoski, titular do Conselho de Ética do Cidadania, o parecer pela expulsão foi divulgado no dia 10 de janeiro.

Cury segue como deputado até o fim de seu mandato ou de outra decisão diferente da Alesp. A expulsão do partido não implica em nenhum tipo de cassação.

O Caso

Em 21 de dezembro de 2020, as câmeras do circuito interno da Assembleia Legislativa de São Paulo flagraram o parlamentar colocando as mãos nos seios da colega que, por estar de costas pra ele, não pôde impedir. Punido internamente na Casa, Cury ficou suspenso de suas atividades parlamentares por 180 dias.

Cury ainda responde pela acusação de importunação sexual apresentada pelo Ministério Público de São Paulo. Ele já é réu no processo, que aguarda as considerações da defesa.

Leia a nota de Isa Penna na íntegra:

Hoje o partido Cidadania não respondeu a mim, não respondeu ao Fernando Cury. Hoje o Cidadania respondeu a todas mulheres que se sentiram assediadas junto comigo quase um ano atrás.

Sou uma deputada e entendo a demora desse resultado. A demora, no entanto, sempre me faz pensar mas nas mulheres que nunca verão seus assediadores sendo punidos – seja porque não há respostas efetivas das instituições.  Eu seguirei na luta para não haja espaço para outros Fernando Cury, um exemplo do que não se deve fazer nem com as câmeras televisionando tudo, nem nos corredores de ônibus, nos becos, vielas, nos espaços de trabalho e nos lares do Brasil.

Sigo com força porque a vitória de hoje é democrática e também uma vitória feminista!  Afinal um homem eleito deve (ou deveria) entender que assédio é assédio.  Estamos há um ano das eleições no país, que isso também reflita nos candidatos, em quem os partidos irão apoiar e principalmente que tenha igualdade de gênero nas casas legislativas do país todo. Que o Fernando Cury entenda que ele não responde mais a mim e sim à sociedade e ao ministério público.

Leia a nota de Fernando Cury na íntegra:

Em relação à reunião marcada pelo Cidadania hoje para oficializar meu processo de desligamento do partido, venho por esta nota afirmar que, no meu entendimento, esse processo está, mais uma vez, atropelando o devido processo legal para criar um fato político. Não há o intuito de se fazer justiça pois, caso fosse essa a intenção, aguardariam o término dos prazos dos recursos na ação judicial para dar andamento a este processo. Temos uma apelação para ser julgada e também um agravo de instrumento para ser apreciado. O Cidadania apresentou as contra razões da minha apelação, mas querem fazer uma manobra criando um fato político para me expulsar antecipadamente, antes do julgamento desta. Caso o TJDF entenda que a competência é do Conselho de Ética  Estadual, e não Nacional do Cidadania, minha expulsão será cancelada. Outro fato importante é que o Sr. Roberto Freire, presidente do Partido, estaria impedido por já  ter pré-julgado o caso. Reforço que o partido busca apenas um fato político, pois a justiça ainda nem declarou minha sentença. Ajudei o Cidadania, na ampliação  e representação no interior de São Paulo, o partido cresceu e hoje tem relevância no cenário político estadual e não somente na capital e grande SP. Espero, por respeito, que ao menos seja julgada minha apelação e também o agravo de instrumento antes que esse jogo de cartas marcadas vire um fato político. Reforço que o  processo de desligamento é antidemocrático. Acredito na justiça e, assim que o TJDF reverter a decisão do partido, buscarei minha reparação.

CNN