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Em reuniões com autoridades e lideranças políticas de diferentes países, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva cruza a Europa divulgando uma imagem de estadista aberto ao diálogo, colocando-se no exterior como o principal opositor do presidente brasileiro e, principalmente, estimulando comparações com a postura de Jair Bolsonaro (sem partido) no cenário internacional, segundo avaliação de cientistas políticos.

De acordo com os especialistas, Lula se apresenta como alguém que “faz o que Bolsonaro não faz” e busca mostrar à sua base eleitoral que, mesmo após sua prisão, ainda é respeitado e ouvido no fora do país.

Em sua página no Instagram, Lula desenha uma agenda de chefe de estado. Há fotos e vídeos de todos encontros realizados pelo ex-presidente em viagem pela Europa desde a última quinta-feira (11) saindo da Alemanha, passando pela Bélgica e França, e terminando suas agendas na Espanha.

No primeiro dia, sexta-feira (12), Lula se reuniu com Olaf Scholz, ministro das Finanças da Alemanha e futuro chanceler do país. Depois, encontrou o ex-presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz.

Dois dias depois, Lula se reuniu com Josep Borrell, vice-presidente da Comissão Europeia, órgão executivo da União Europeia. A secretária-geral da Confederação Sindical Internacional, Sharan Leslie Burrow, também encontrou o ex-presidente nesse mesmo dia.

Na segunda-feira (15), o ex-presidente discursou no Parlamento Europeu e foi aplaudido de pé. Ontem, foi recebido como chefe de estado pelo presidente da França, Emmanuel Macron. Também se reuniu com a prefeita de Paris, Anne Hidalgo e o ex-presidente francês François Hollande

Comparação com Bolsonaro

Na opinião de Eduardo Grin, cientista político da FGV (Fundação Getúlio Vargas), Lula busca se mostrar como estadista, sondar investidores que venham a apoiá-lo em campanha e, assim, gerar comparações com a postura do presidente atual em encontros internacionais.

“Ele busca fazer o que Bolsonaro não faz. A ideia é: enquanto o presidente da República, em plena Assembleia da ONU, fica sentado e não consegue bater papo com garçom italiano, Lula consegue aproveitar todo espaço que Bolsonaro não ocupou como chefe de estado nos últimos anos”, afirma.

A solenidade de chegada ao encontro com Macron é ainda mais marcante, explicam os docentes. Isso porque Bolsonaro já ironizou a aparência da esposa de Macron publicamente. O ministro da Economia, Paulo Guedes, foi além: “é feia mesmo”, defendeu. Macron, à época, lamentou as declarações.

“É inevitável uma comparação com o comportamento do presidente Jair Bolsonaro que, em suas viagens ao exterior, se mostra claramente deslocado e incapaz de demonstrar liderança. Lula, por outro lado, demonstra estar à vontade em seu relacionamento com líderes internacionais e busca, com isso, reforçar uma imagem de estadista”, afirma o cientista político da Fespsp (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo) Hilton Fernandes.

De olho na eleição

Hilton Fernandes também afirma que o encontro com Macron é uma sinalização à base eleitoral de Lula.

“Para Lula, essa viagem representa a retomada da agenda de liderança da esquerda, se posicionando como o grande antagonista de Bolsonaro. Também é um movimento que procura demonstrar à sua base eleitoral que, apesar de todo o desgaste sofrido nos últimos anos, ele ainda é respeitado e ouvido no exterior”, explica.

Eduardo Grin concorda e ressalta que a ideia do ex-presidente é, por enquanto, entrar em campanha apenas fora do país.

“Lula evita fazer campanha dentro do Brasil para não virar vidraça. Começa pelo lado de fora, fazendo conexões com chefes de estado e financiadores internacionais, contando sua narrativa sobre o Brasil. Ele busca mais do que uma comparação. Ele busca dizer que ele é uma alternativa”, disse.

Aqui no Brasil, no entanto, o jogo muda. “Em termos eleitorais, no entanto, o impacto imediato deve ser quase nulo, pois a grande dificuldade de Lula é ganhar espaço na imprensa brasileira, com quem mantém um relacionamento cada vez mais atribulado”, pontua Hilton Fernandes.

UOL