A cerveja vai ficar mais cara no Brasil a partir desta sexta-feira (1º), acompanhando a alta dos preços de produtos como combustíveis, alimentos e gás de cozinha. Os consumidores já vinham lidando com o gosto amargo dessa notícia há alguns dias, já que a Ambev, dona das marcas Brahma, Skol e Stella Artois, enviou um comunicado aos comerciantes avisando que iria reajustar os preços da bebida na quarta-feira.
Em nota, a empresa afirmou que faz, periodicamente, ajustes nos preços de seus produtos, e que os reajustes vão variar conforme a região do país. Na sequência, o grupo Heineken disse que os preços de seus produtos seguem os mesmos por ora, já que a empresa já fez uma revisão de valores neste ano e não prevê mais mudanças até o fim do ano.
Mesmo assim, o peso no bolso dos consumidores deve se espalhar pelo país de forma significativa, já que a Ambev concentra cerca de 60% do mercado no Brasil.
Em nota, o Grupo Heineken justificou que as revisões na tabela de preços estão relacionadas à dinâmica natural do mercado brasileiro e às necessidades de compensar os impactos da valorização do dólar nos custos de matérias-primas e dos custos logísticos.
A cerveja é uma das bebidas mais consumidas pelos brasileiros. A Euromonitor aponta que o consumo em 2021 alcançou seu maior patamar desde 2014, com 13,67 bilhões de litros da bebida vendidos no país.
O preço da cerveja fechou agosto em alta pelo oitavo mês consecutivo, segundo o IBGE, em seus cálculos para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Com isso, o preço do item já apresenta um aumento 3,49% no ano e 7,62% nos últimos 12 meses.
Somado ao valor da carne, o reajuste da cerveja deixa cada vez mais difícil para o brasileiro fazer um churrasco.
Aumentar para quê?
O economista da Fundação Getúlio Vargas, André Braz, afirma que o aumento tem relação direta com a desvalorização do real, o que eleva o preço dos insumos para produção da cerveja, e com as elevações nos preços da energia elétrica e frete.
“Tudo isso é custo para a companhia e, embora o reajuste nos preços das cervejas seja feito uma vez por ano, esses são fatores que a empresa considera, pois aumenta o custo da produção”, ressalta o especialista.
Para o presidente-executivo da Abrasel, Paulo Solmucci, o reajuste anunciado pela cervejaria, embora compreensível em função da alta nos insumos e do dólar, não é desejável, já que o setor, um dos mais afetados pela pandemia, começa a mostrar sinais de recuperação.
Segundo a Abrasel, uma parcela significativa, cerca de 37%, ainda está operando no prejuízo. Em São Paulo, esse percentual é ainda maior, 50%.
“O setor está hiper pressionado por aumento de custos na luz, no aluguel, nos alimentos, no combustível, que afeta o delivery, por exemplo. Não suporta novo aumento sem repassar para o consumidor. É o acreditamos que vai acontecer instantaneamente”, avaliou.
Solmucci calcula ainda que o reajuste anunciado pela Ambev deverá ser a tendência também implantada por outras fabricantes de cervejas.
Repasse
Em comunicado à imprensa, a Abrasel afirma que 37% do setor de bares e restaurantes opera atualmente com prejuízo em todo o país; em São Paulo, esse número chega a 50%. “O ajuste de custos deverá ser repassado imediatamente ao consumidor”, diz a entidade. A expectativa da Abrasel é de que o aumento acompanhe a inflação acumulada nos últimos 12 meses e fique em até 10% na capital paulista.
Uma pesquisa feita pela Associação Nacional de Restaurantes (ANR), divulgada nesta terça-feira (28), mostrou que, mesmo com a retomada gradual da economia, 62% dos estabelecimentos no país ainda não recuperaram o faturamento que tinham em 2019.
A situação é ainda pior para 55% deles, que declararam estar endividados. Desse total, 78% devem para bancos, 57% estão com impostos em atraso, 24% têm dívidas com fornecedores e 14% afirmam ter pendências trabalhistas.