Plenário do Senado durante reunião preparatória destinada à eleição dos demais membros da Mesa do Senado Federal para o segundo biênio da 56º Legislatura. A eleição é realizada por escrutínio secreto, de acordo com o Regimento Interno do Senado Federal, por meio de cédulas não identificadas.Em discurso, à tribuna, senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB).Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado
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Em uma longa entrevista à Revista IstoÉ, o senador paraibano e vice-presidente do Senado Federal Veneziano Vital do Rêgo (MDB) se mostrou preocupado com os recentes atos autoritários protagonizados pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Ele falou ainda sobre o tensionamento entre os poderes que vem sendo alimentado por Bolsonaro e criticou o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), por minimizar as ameaças promovidas pelo presidente.

Veneziano disse que Bolsonaro provoca crises políticas propositalmente para servirem como “cortina de fumaça” para tirar o foco dos problemas do País (citando exemplos como os aumentos nos preços dos alimentos e dos combustíveis) e alertou para as ameaças antidemocráticas que Bolsonaro vem promovendo, citando o exemplo do desfile de tanques em Brasília.

“Não podemos minimizar esse tipo de discurso, nem o comportamento antidemocrático de Bolsonaro e seus apoiadores. Alguns podem até achar que seja só bravata. Mas existem outros, como eu, que são vigilantes na defesa da democracia. Esse tema é caro para mim, porque meu pai e meu avô foram vítimas do AI-5. Eles eram deputados e foram cassados”, disse Veneziano.

“São provocações, são incitações quase que regulares do presidente, de ministros e das pessoas mais próximas a ele. Vejo isso como uma situação extremamente delicada. É algo atentatório. Não podemos minimizar nada disso”, prosseguiu.

Para o senador, por mais que não veja cenário para a aplicação de um golpe de estado no Brasil, o governo Bolsonaro “pensa em golpe”.

“Não significa que o governo não pense em golpe. As tentativas estão presentes. São as falas do presidente. Mesmo que o plano não se concretize, o fato de ele expressar descrença e sugerir ruptura institucional faz com que a relação entre os poderes se fragilize. Nós não chegaremos ao ponto de ruptura, mas isso não significa dizer que a democracia não esteja sendo atacada”, avaliou.

Para ele, o episódio do desfile de tanques em Brasília no dia da votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Voto Impresso, derrubada no plenário da Câmara, foi mais uma demonstração de intimidação por parte de Bolsonaro: “o presidente fez aquela cena quixotesca, tosca, provocativa e ofensiva. E que diz muito a respeito daquilo que o presidente nutre em sua intimidade”.

Vené avaliou como positiva a atuação do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, ao dizer que ele tem “assumido o papel de fiador da normalidade democrática”. No entanto, caso as constantes ameaças de Bolsonaro permaneçam, o paraibano afirma que o Senado terá que “fazer algo mais”.

O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) também foi elogiado pelo paraibano: “O vice-presidente tem falado isso de maneira muito clara, se colocando contra o que defende Bolsonaro. E isso tem feito com que Mourão fique segregado por completo do governo. Para os outros poderes, esse gesto é muito importante”, emendou.

Arthur Lira

Perguntado sobre as declarações que o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, tem dado sobre as atitudes de Bolsonaro, Veneziano discordou. Lira disse que “as cordas foram esticadas na realidade paralela”, no mundo virtual, e que os trabalhos na “vida real” seguem diferentes.

“Isso que estamos vivendo hoje não é algo banal. Não dá para naturalizar isso. Esse processo de banalização pode nos levar a um momento em que não seja mais possível reagir a qualquer coisa. Não podemos tratar isso como simples bravatas jogadas ao vento. Afinal de contas, elas são ouvidas por muita gente. Quantos milhões de pessoas,
por exemplo, deixaram de se vacinar porque Bolsonaro disse que não havia necessidade? Muita gente ouve e se convence de que o presidente tem razão. É arriscado desconsiderar esse movimento”, alertou Veneziano.

Impeachment

Perguntado se há clima para o impeachment de Bolsonaro, Veneziano disse que não pode criar uma “falsa expectativa”. Ele defendeu a análise dos pedidos que tramitam no Congresso por ver neles justificativas para tal, mas prevê que nenhum deles será posto para análise com Arthur Lira na presidência da Câmara.

“Não posso aqui alimentar uma falsa expectativa de que os pedidos serão analisados. Porque não vão. Não foi com Maia. Não serão com Arthur Lira”, pontuou.

Pandemia

Falando sobre a pandemia da Covid-19, Veneziano considera Bolsonaro o principal culpado pela situação que o País vive com relação a pandemia do novo coronavírus, citando que “nenhum outro chefe de Estado do mundo fez isso”.

“Se, desde o início, tivéssemos tido essa coordenação, com participação de Bolsonaro, os resultados seriam outros e bem menos devastadores. Seria outra realidade se Bolsonaro tivesse uma postura mais responsável. E não teve, lamentavelmente”, finalizou.

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