Embora sua esposa, Ana Cláudia, continue à frente de uma Secretaria estadual e o MDB esteja representado em uma Pasta de “status” político através da figura do ex-governador Roberto Paulino, vice-presidente do diretório regional, o senador Veneziano Vital do Rêgo dá sinais de que começa a se ‘descolar’ da liderança do governador João Azevêdo (Cidadania), com cuja reeleição havia se comprometido publicamente. Presidente do diretório emedebista, fazendo-se herdeiro no comando partidário do senador José Maranhão, que morreu de complicações da Covid, Veneziano protagonizou fato relevante, recentemente, ao se reunir com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com a dirigente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, sem qualquer comunicação prévia ao então aliado e parceiro João Azevêdo.
No final de semana, Veneziano tomou a iniciativa de conversar com o ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), que também busca uma aproximação com Lula e figurou na agenda de contatos da cúpula nacional petista com líderes políticos da Paraíba. Segundo se apurou, Veneziano e Cartaxo não avançaram discussões sobre formação de chapas ou nomes que podem se projetar à disputa majoritária em 2022 no Estado, mas concordaram em questões pontuais como a preservação da democracia diante dos arroubos autoritários do governo de Jair Bolsonaro. À medida que se aproxima de adversários do governador João Azevêdo, o senador e ex-prefeito de Campina Grande distancia-se da companhia do atual ocupante do Palácio da Redenção. Tem evitado participar de eventos onde o governador esteja presente, como se deu no voo inaugural da Azul na conexão Recife-Patos, no Sertão paraibano. A própria secretária Ana Cláudia ausentou-se de atos oficiais presididos por Azevêdo em Campina Grande, embora se encontrasse na cidade quando a comitiva governamental aterrissou.
Já há alguns dias circulam especulações de que Veneziano estaria ressabiado com o esquema político do governador, pela ingerência desse esquema no controle do “Podemos” em Campina Grande. A legenda tinha como expoente a secretária Ana Cláudia, que, inclusive, concorreu por ela à prefeitura municipal da Rainha da Borborema em 2020, com o apoio do governador João Azevêdo. Os fatos transcorrem envolvendo o senador Veneziano Vital no foco natural da mídia sem que o parlamentar se preocupe em manifestar-se claramente a respeito, para dar sua versão ou oferecer explicações à opinião pública. A prioridade na agenda de Veneziano, pelo que ele deixa vazar, é a pauta legislativa, que acompanha com interesse não só por ser senador como por ter responsabilidades na condição de Vice-Presidente do Senado Federal. A agenda paralela, de contatos políticos, como os que manteve com Lula e com Luciano Cartaxo, não é mencionada com riqueza de detalhes pelo senador ou por seus assessores.
O que se comenta nos meios políticos, diante da movimentação visível do senador Veneziano Vital do Rêgo, é que ele está testando os espaços para se firmar no cenário paraibano como um líder influente na campanha eleitoral do próximo ano. O nome do parlamentar já foi mencionado como provável alternativa para disputar o governo do Estado, contando com reforço de quadros interessados em viabilizar uma terceira via – que se contraponha à aparente polarização que se ensaia, desde agora, entre o governador João Azevêdo e o também ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD), que atraiu antecipadamente o PSDB para apoio à sua postulação, com isto afastando o deputado federal Pedro Cunha Lima da raia competitiva. Uma vantagem que se atribui a Veneziano, se quiser levar à frente o projeto de candidato ao governo, é que, mesmo em caso de derrota, ainda terá quatro anos de mandato pela frente no Senado Federal.
Há particularidades que devem ser registradas a propósito do vai e vem que já toma conta das articulações políticas na Paraíba com vistas às eleições de 2022. Uma delas, certamente, é o fato de que, em 2018, o “clã” Cartaxo apostou numa composição com o “clã” Rodrigues-Cunha Lima, de Campina Grande, para marcar presença na disputa ao governo. A chapa foi encabeçada por Lucélio, irmão gêmeo de Luciano, tendo como vice a doutora Micheline Rodrigues, mulher de Romero, com o pleno aval do então senador Cássio Cunha Lima, que pleiteava a reeleição. Lucélio, Micheline e Cássio saíram derrotados. Veneziano havia se postado ao lado da candidatura de João Azevêdo, filiado ao PSB e apoiado pelo ex-governador Ricardo Coutinho, e também entrou no páreo concorrendo ao Senado. Resultado do confronto: vitoriaram Azevêdo, Veneziano e Ricardo. No rompimento de Ricardo com Azevêdo, Veneziano ficou com este último e, em lance bem-sucedido, logrou fazer o caminho de volta ao MDB, cujo comando enfeixa indivisivelmente.
Numa comprovação da dinâmica política acelerada, Luciano Cartaxo, hoje, tem como interlocutor o senador emedebista, não mais o ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues. O que está sendo tramado em conversas informais não vazou, ainda, para a mídia, afora o denominador comum da oposição ao governo do presidente Jair Bolsonaro. Mas a ninguém escapa a impressão de que esboços de chapas e de composições já estão sendo elaborados e debatidos entre interlocutores que se sentem confortáveis porque são donos de respectivos partidos. A expectativa maior, claro, gira em torno das posições do senador do MDB no contexto da sucessão paraibana, por uma razão muito simples: ele pode ser o “elemento desestabilizador” na corrida de 2022, pelas pontes que está recompondo e pela habilidade em agregar ambições postas na mesa com tanta antecedência.
Os Guedes