Foram os ministros do Supremo Tribunal Federal e do TSE —e não o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP)— os reais destinatários da ameaça feita pelo general Walter Braga Netto de que não haveria eleições em 2022 sem o voto impresso.
Conforme revelou na semana passada o Estadão, Braga Netto reuniu-se no início do mês com um interlocutor — que hoje se sabe ser o senador Ciro Nogueira— e incumbiu-o de enviar seu recado-ameaça “a quem interessar possa”. O recado passou por Lira, que se encarregou de vazá-lo, mas alcançou também seus alvos originais, entre eles, os ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli, de quem Ciro Nogueira é próximo.
No dia 30 de junho, pouco antes da ameaça do militar, o jornal O Globo havia publicado que três ministros do STF — Luís Roberto Barroso, Edson Fachin e Alexandre Moraes— estavam promovendo reuniões com congressistas para tentar esvaziar o projeto do voto impresso que tramita na Câmara dos Deputados. Barroso é também o atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral.
Bolsonaro demonstrou ter lido a reportagem. No dia seguinte à sua publicação, disse a apoiadores no Palácio da Alvorada: “Tem uma articulação de três ministros do Supremo para não ter o voto auditável. Se não tiver, eles vão ter que apresentar uma maneira de termos eleições limpas. Se não tiver, vamos ter problemas no ano que vem”.
Uma semana depois, mapeamentos mostravam uma virada no placar da comissão no Congresso que analisa a criação do voto impresso e antes havia se mostrado majoritariamente a favor da iniciativa. O Palácio do Planalto atribuiu a mudança de cenário à articulação promovida por Barroso, que Bolsonaro chamou de “imbecil e idiota”.
Nem o ministro Barroso e nem o Supremo foram mencionados na nota que o general Braga Netto leu no dia 9 na tentativa de “desmentir” a ameaça de interferir nas eleições revelada pelo Estadão. Um integrante da cúpula das Forças Armadas, porém, garante que foi para os membros da Corte que o general endereçou a última linha de sua nota: “A discussão sobre o voto eletrônico auditável por meio de comprovante impresso é legítima, defendida pelo Governo Federal, e está sendo analisada pelo Parlamento brasileiro, a quem compete decidir sobre o tema”.
O “parlamento brasileiro” não é problema para Bolsonaro.
Quando ele asperge perdigotos golpistas, bravateia colocar nas ruas o “seu” Exército e sacode no ar a própria interpretação do artigo 142 da Constituição, o alvo é sempre o STF. A quimera do “cabo e do soldado” fechando a Corte nunca foi exclusividade, nem invenção, do deputado Eduardo Bolsonaro.
UOL