Com uma grave ameaça de escassez de energia em meio à crise hídrica e com o Governo tomando medidas que atingem diretamente o bolso da população para tentar reverter o quadro, entidades do setor de turismo e de restaurantes enviaram um documento ao presidente Jair Bolsonaro na última quarta-feira (30) pedindo pelo retorno do horário de verão ainda em 2021. As informações são d’O Globo.
A carta é assinada pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) e por quatro entidades do setor de turismo: a Federação das Empresas de Hospedagem, Gastronomia, Entretenimento, Lazer e Similares do Estado do Paraná (Feturismo), a Federação Baiana de Turismo e Hospitalidade do Estado da Bahia (FeTur-BA), a Federação de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Estado de Santa Catarina (Fhoresc), a Federação de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Estado de São Paulo (Fhoresp).
No documento enviado ao presidente, os empresários explicam que o horário de verão impacta positivamente nos negócios porque adiciona uma hora para receber turistas e clientes, apesar de não ter grande impacto no consumo de energia. “O horário diferenciado não gera grandes reduções no consumo de energia elétrica, mas estimula a adoção de novos hábitos de consumo e reflete positivamente para bares, restaurantes e meios de hospedagem. O retorno do horário de verão representa uma valiosa ajuda do Governo Federal ao setor, que sofreu de forma desproporcional com as restrições impostas durante a pandemia”, diz o documento.
Para Paulo Solmucci, presidente da Abrasel, mesmo que o impacto seja pequeno para a questão energética, é uma medida válida dada a gravidade da crise atual. Solmucci ainda ressalta o impacto positivo no setor, que costumava contar com mais clientes quando o horário de verão estava em vigor. “Entendemos que qualquer economia de energia é importante dado o risco que estamos vivendo. Você tem condições de ajudar uma parcela tão importante da economia e ao mesmo tempo dar um impacto, mesmo que pequeno, positivo. Não há razão para não ser adotado”, destacou.
As entidades argumentaram que a crise hídrica vem “alarmando” a sociedade e destacaram que medidas como a da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que pretende fazer uma campanha para incentivar o uso racional da energia, seriam semelhantes ao horário de verão. “Desta forma, o setor do Turismo, composto por hotéis, bares, restaurantes, cadeia produtiva de eventos, com o intuito de minimizar os duros efeitos da crise, e na certeza de contar o valioso apoio do Governo Federal, apresenta o pleito de retomada do horário de verão, em especial, nos próximos anos, onde estará, ainda, em recuperação desta terrível crise”, apontam as entidades.
O fim do horário de verão foi definido em 2019 por meio de um decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro. Naquela época, o governo justificou que o adiantamento de uma hora nos relógios não tinha mais impacto na economia. O presidente chegou a dizer que a decisão aumentaria a produtividade por respeitar o relógio biológico do trabalhador.
Segundo Solmucci, a justificativa do governo na época não valeria para o momento atual por conta do “desespero da situação” e do “desespero financeiro do nosso lado”. “Poucas vezes uma canetada pôde resolver tantos problemas sem gerar outros”, afirmou.
Procurado pelo Globo, o Ministério de Minas e Energia disse que tem estudado iniciativas para deslocar o horário do maior consumo de energia, para “otimizar” o uso, mas destacou que a contribuição do horário de verão para esse intuito é “limitada”. “A contribuição do Horário de Verão é limitada, tendo em vista que, nos últimos anos, houve mudanças no hábito de consumo de energia da população, deslocando o maior consumo diário de energia para o período diurno, no momento não identificamos que a aplicação do horário de verão traga benefícios para redução da demanda”, disse a pasta em nota.
O Globo