A GM (General Motors) está enfrentando um problema inusitado nos Estados Unidos: o grupo automotivo tem muitas dificuldades para contratar trabalhadores temporários para duas de suas fábricas principais no estado e em Indiana. E um dos motivos é a obrigatoriedade do teste toxicológico. A questão é que a maconha é liberada para uso recreativo em Michigan, nos Estados Unidos, desde 2018. E nem assim algumas empresas assimilaram rapidamente a liberação. A General Motors foi uma delas.
Segundo reportagem do Detroit Free Press, a companhia está procurando por operários temporários para reforçar a produção das fábricas de Flint (Michigan) e Fort Wayne (Indiana), justamente onde são produzidas as lucrativas picapes grandes. No caso da segunda delas, foram contabilizados apenas 60 candidatos, mas a empresa precisa de 275 funcionários.
O sindicato United Auto Workers assinala que a proibição do uso da maconha e derivados prejudica o recrutamento e, com isso, as vagas não devem ser preenchidas: “Quando você tem uma fila de pessoas esperando por um emprego, é ok testar. Mas quando você não tem candidatos suficientes, testar para o uso de maconha talvez faça as pessoas desistirem de se candidatarem”, afirma Eric Welter, chefe regional do sindicato.
Deixar de fazer testes foi a opção de muitas empresas grandes, entre elas a Amazon. “Você tem esse conjunto de candidatos que sabe que pode fumar maconha à noite em vez de tomar um drink. É meio bobo perder bons trabalhadores. Maconha não cria o problema que opiáceos, cocaína e outras drogas geram”, completa Welter.
Rich LeTourneau é o chefe do UAW na fábrica de Fort Wayne e aponta que o teste toxicológico é apenas um dos problemas. A questão salarial pesa muito, uma vez que são pagos apenas US$ 16,67 por hora. “A Pizza Hut está pagando US$ 20 a hora para entregar pizzas por aqui”, afirma. Ainda de acordo com a reportagem, a General Motors estaria levando em consideração esses problemas internamente.
Se o pagamento e a perspectiva de ser um emprego apenas temporário não são atraentes, há alguns benefícios para tentar compensar, um deles muito sedutor. Quem ficar mais de três meses no posto passa a ter plano de saúde, algo muito cobiçado em um país focado na medicina particular. A despeito disso, é difícil competir com os auxílios sociais, que chegam a passar ou igualar um salário mínimo em todos estados norte-americanos.
Há um outro ponto polêmico: o teste de toxicologia usa um fio de cabelo para determinar se a pessoa usou maconha nas últimas semanas. De acordo com estudo do Journal Analytical Toxicology, principal publicação mundial sobre o toxicologia, esse tipo de teste pode dar um falso positivo e apontar para a concentração de um dos princípios ativos da droga (THC) mesmo em quem usou produtos apenas com canabidiol (CBD). Ou seja, nem sempre o examinado acusado é um usuário. Às vezes é somente alguém procurando um emprego.
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