Por Samuel de Brito – Jornalista do Voz da Paraíba
No benefício da dúvida, melhor ter opções a não tê-las. Quem duvida, logo pensa, logo existe. Essa é a base do pensamento do filósofo francês René Descartes. Assim como o sol nasce primeiro, os cenários eleitorais surgem ao amanhecer. A articulação nunca parou. No ano que vem, João Azevêdo terá a sua capacidade de articulação política colocada em xeque. Até aqui, o governador aglutinou apoios da direita, da esquerda e do centro. Se colocou como moderado e conseguiu governabilidade, tendo uma base sólida na Assembleia Legislativa.
Após vinte anos, um governador conseguiu eleger um prefeito na Capital, algo que nem Cássio Cunha Lima, nem Ricardo Coutinho haviam conseguido. João chegou ao poder em 2018 com uma forte votação em primeiro turno, o que muito se deveu a articulação e a boa gestão de Ricardo Coutinho. No entanto, logo depois, após divergências, os dois se separaram. João conseguiu arrumar um novo partido e migrou para o Cidadania. Lá, levou inúmeros prefeitos do interior e conseguiu que o partido crescesse nas eleições municipais.
Uma reeleição é considerada natural, enfrentando como principal opositor o clã Cunha Lima, ou até mesmo Romero Rodrigues. No entanto, um fator pode colocar a reeleição de João sob ameaça: a sua capacidade de articulação. Ele vai ter muitos partidos para poucas vagas, apenas seu vice e senador na majoritária, em uma decisão difícil.
Tudo começa com dois nomes: Aguinaldo Ribeiro (PP) e Efraim Filho (DEM), os dois deputados federais serão candidatos ao Senado. Efraim já se lançou e conta com apoio de mais de 80 prefeitos. Aguinaldo fazia campanha nos bastidores, pedia voto aos prefeitos do interior, mas na última semana contratou o marqueteiro que cuidou da campanha de João Doria à prefeitura de São Paulo e, no final de semana, se lançou oficialmente como pré-candidato a senador.
O problema é que tanto Aguinaldo, quanto Efraim, são da base aliada de João Azevêdo e querem estar na chapa com o governador. Efraim Morais, pai de Efraim Filho, já declarou que vai buscar o apoio de João, mas que a decisão cabe ao chefe do Executivo estadual. Aguinaldo ainda não fez declarações nesse sentido, até porque não tinha se lançado como candidato.
Nas eleições do ano passado, Cícero, João e Aguinaldo andavam lado a lado. O prefeito do PP foi eleito na Capital e, na festa, os três formaram uma chapa que parecia se consolidar para o futuro. A questão é que dentro do PP, e até mesmo da família Ribeiro, Daniella, atual senadora, não gosta nem um pouco de João, acha que ele tem um difícil relacionamento e faz oposição ferrenha, não devendo assim declarar voto ou estar na mesma coligação do governador. Além do mais, o filho de Daniella é vice-prefeito de Bruno Cunha Lima, aliado de Romero em Campina Grande.
No início do mês, João Azevêdo declarou em entrevista que uma composição com nomes de direita seria difícil. Apesar de partidos que tentam se colocar como de Centro, tanto Aguinaldo, quanto Efraim, defendem pautas da direita. E aí é que vem um problema para Efraim: o DEM vem perdendo força nacionalmente, já perdeu o prefeito do Rio, Eduardo Paes; o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia; e o vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia. Isso tudo por ter se colocado muito próximo a Bolsonaro desde a eleição de Arthur Lira na Câmara Federal.
Presidente nacional do DEM, ACM Neto deve levar o partido no caminho de Bolsonaro, caminho esse que João Azevêdo vai contra. João não vai com Bolsonaro e ter um senador do Democratas, com o nome nacionalmente ligado ao atual presidente, não pegaria bem para a imagem do governador, que talvez apoie o ex-presidente Lula.
Entre rivais políticos, a exemplo de Daniella e Bolsonaro, João Azevêdo terá uma decisão difícil. Além disso, há um problema maior: não ter Aguinaldo na sua chapa e tê-lo como opositor pode ocasionar perdas de voto, pela capilaridade que o PP e os Ribeiro conseguem no interior do Estado. Já não ter Efraim pode ocasionar um racha com principais apoiadores, como o MDB de Veneziano e o próprio grupo de Efraim Morais, seu ex-secretário, e até mesmo com outros partidos de sua base.
Se na filosofia descartiana, duvido, logo penso, logo existo, João terá muito a existir até 2022.