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O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a defender hoje o desenvolvimento de medicamentos para o tratamento da covid-19 e adotou um tom irônico ao falar sobre a vacinação. Ele exaltou os estudos feitos pelo Ministério da Ciência e Tecnologia com o antiparasitário nitazoxanida (“Annita”) e se referiu à hidroxicloroquina, mas sem citar o nome — ambos medicamentos não têm eficácia comprovada contra a doença causada pelo coronavírus.

“É impressionante como só se fala em vacina, né? Mas também, uma compra bilionária, no mundo todo, então é só vacina. Ninguém é contra a vacina. O Brasil, tirando os países que produzem vacinas, é primeiro no mundo em valores absolutos [de doses aplicadas]”, disse Bolsonaro durante sua live semanal.

Em números absolutos, o Brasil é hoje o quarto país que mais aplicou doses de vacina, atrás dos Estados Unidos, Índia e Reino Unido, segundo dados coletados até ontem pela plataforma Our World in Data. Os três, de fato, produzem insumos para imunizantes contra covid-19.

No entanto, é importante lembrar que essa não é a melhor forma de se avaliar a eficácia da logística de imunização, considerando a enorme população brasileira. Em termos proporcionais, o Brasil é apenas o 9º, atrás de países como Israel, Chile, Bahrein, Hungria, Uruguai e Sérvia. Nenhum destes produz a substância.

Defesa da cloroquina

O presidente estava ao lado do ministro de Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, que também exaltou as pesquisas coordenadas por sua pasta com a nitazoxanida. Ele ainda citou um remédio nacional desenvolvido especificamente para o tratamento da covid-19 que deve entrar na fase de testes clínicos “muito em breve”.

Após o anúncio, Bolsonaro pediu que Pontes tivesse “cuidado” com as palavras porque, caso contrário, a transmissão poderia ser derrubada pelo Facebook. É que a rede social passou a remover conteúdos que incentivem tratamentos ineficazes contra o coronavírus, como é o caso da nitazoxanida, da ivermectina e da cloroquina.

Esta última, inclusive, também teve seu nome omitido pelo presidente durante a live — justamente para evitar que a transmissão fosse excluída pelo Facebook.

“Tem alguma coisa, não vou falar para não cair a live… Eu tomei um negócio no ano passado e, se eu tiver problema de novo, eu vou tomar a mesma coisa”, afirmou, fazendo referência à época em que teve covid-19 e tomou cloroquina, como ele mesmo contou em diversas oportunidades.

“Aquilo que tomei serve para malária, lúpus e artrite, se não me engano. (…) O pessoal consumiu muito isso, como também consumiu outro negócio que não pode falar o nome aqui”, completou, em possível menção à ivermectina ou ao antibiótico azitromicina, que também não tem eficácia comprovada contra a covid-19.

Omissão se repete

Não é a primeira vez que Bolsonaro omite nomes de remédios, alegando que não quer sofrer possíveis retaliações — seja das redes sociais, seja de outros políticos. Além de uma recente decisão da Justiça que proibiu a União de veicular campanhas que contradizem a ciência, o presidente tem pela frente a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid, que vai investigar a atuação do governo federal no combate à pandemia.

A “mudança” nesse comportamento de Bolsonaro coincide também com a chegada do novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que tem defendido a importância da ciência na prevenção da covid-19, incluindo pontos básicos como o uso de máscaras e respeito ao distanciamento social — ambos comumente ignorados pelo presidente.

UOL