O presidente do Chade, Idriss Deby, que governou o país por mais de 30 anos e foi um importante aliado ocidental na luta contra militantes islâmicos na África, foi morto na linha de frente de combate contra os rebeldes no norte.
O filho de Deby, Mahamat Kaká, foi nomeado presidente interino por um conselho de transição de oficiais militares, disse o porta-voz Azem Bermendao Agouna, em uma transmissão na televisão estatal.
“O marechal Idriss Deby Itno, como fazia cada vez que as instituições da república eram gravemente ameaçadas, assumiu o controle das operações durante o heróico combate liderado contra o terrorista da Líbia. Ele foi ferido durante os combates e morreu ao ser repatriado para N’Djamena “, disse Agouna.
Deby, de 68 anos, chegou ao poder em uma rebelião em 1990 e foi um dos líderes mais antigos da África, sobrevivendo a inúmeras tentativas de golpe e rebeliões.
Sua morte foi anunciada um dia depois de ele ser declarado vencedor da eleição presidencial, que lhe daria o sexto mandato. A maior parte da oposição, que reclama de seu governo repressivo, boicotou a votação.
Deby já se juntou aos soldados na frente de batalha diversas vezes – nesta segunda-feira (19), ele visitou as tropas da linha de frente depois que rebeldes baseados na fronteira norte da Líbia avançaram centenas de quilômetros ao sul em direção à capital N’Djamena.
Mudanças no governo do Chade
Após a morte de Deby, o governo e a Assembleia Nacional foram dissolvidos e um toque de recolher em todo o país imposto a partir das 18 horas, no horário local. “O Conselho Nacional de Transição reafirma ao povo chadiano que todas as medidas foram tomadas para garantir a paz, a segurança e a ordem republicana”, disse o porta-voz do Exército.
Deby aprovou uma nova constituição em 2018 que o teria permitido permanecer no poder até 2033 – mesmo quando restabeleceu os limites de mandato. Ele assumiu o título de marechal no ano passado e declarou que venceria as eleições novamente: “Sei de antemão que vou vencer, como tenho feito nos últimos 30 anos.”
O líder do Chade estava lidando com o crescente descontentamento da sociedade com a gestão da riqueza do petróleo do país e com a repressão aos oponentes. Segundo os resultados das eleições presidenciais, Deby venceu com 79% dos votos, conferindo-lhe um sexto mandato. Várias figuras importantes da oposição boicotaram a votação.
Os países ocidentais têm visto Deby como um aliado na luta contra grupos extremistas islâmicos, incluindo o Boko Haram, na Bacia do Lago Chade, e grupos ligados à Al Qaeda e ao Estado Islâmico, no Sahel.
Sua morte é um golpe para a ex-potência colonial da França, que tinha baseado suas operações de contraterrorismo no Sahel na capital chadiana, N’Djamena. O Chade anunciou em fevereiro o envio de 1.200 soldados para complementar 5.100 soldados franceses na área.
Ataque do grupo rebelde na fronteira do país
O grupo rebelde Frente para Mudança e Concórdia no Chade (FACT), baseado na fronteira norte com a Líbia, atacou um posto de fronteira no dia das eleições e avançou centenas de quilômetros ao sul.
Os rebeldes reconheceram que sofreram derrotas no último sábado (17), mas disseram que voltaram ao local no último domingo e nesta segunda-feira.
Déby ingressou no exército na década de 1970, quando Chade estava passando por uma longa guerra civil. Ele recebeu treinamento militar na França e voltou ao Chade em 1978, dando seu apoio ao presidente Hissène Habré e, eventualmente, se tornando comandante-chefe das Forças Armadas do país.
Ele tomou o poder em 1990, liderando um exército rebelde no deserto em uma ofensiva de três semanas lançada do vizinho Sudão para derrubar o então presidente Habré, acusado de instigar milhares de assassinatos políticos.
CNN